A produtividade orgânica jamais será viável para
uma agricultura cada vez mais concorrida e crescente, a necessidade de produzir
mais em uma mesma área vem de encontro à necessidade também de reduzir os
desmatamentos, com isso, existe uma grande duvida: produzir orgânico e
expandir a área de cultivo para se tornar viável ou conciliar o uso racional
do agrotóxico para aumentar a produtividade em uma mesma área?
Bom, complicado de decidir, podemos parar para
pensar, alimentos orgânicos tem uma ótima qualidade, porém, são em média mais
caros quando comparados a um produzido de maneira convencional, esse é um dos
pontos que mencionei em cima sobre produzir mais em uma mesma área, outro ponto
seria os riscos que os agros químicos causam na biodiversidade local,
contudo empresas produtoras de agrotóxico gastão altos valores na
pesquisa de novas moléculas que venham ser seletivas somente à praga
causadora da redução da produção chegando hoje em produtividades por hectares
altíssimos, claros não somente devido ao uso de agrotóxicos, mas também por uma
melhora no uso de insumos, como: adubos e a tecnologia do melhoramento vegetal.
Gostaria de deixar claro, não sou a favor nem
contra a produção de alimentos orgânicos, desde que consiga ser desenvolvido
com baixo custo (que ainda não é), por isso, fico na duvida quando penso na
produção de alimento suficiente e mais barato para a população ter acesso a
comida todos os dias.
Essa é uma discussão que poderia levar horas, mas
vamos parar por aqui. Vou deixar um texto que saiu no dia 4 de janeiro na
revista Veja relatando a ultima pesquisa realizada pela ANVISA.
Guia Veja - Matéria: "A verdade sobre os
agrotóxicos"
Revista Veja, edição de 4 de
janeiro de 2012, páginas 84 a 88
Há um mês a Agencia Nacional de Vigilância
Sanitária - (ANVISA), divulgou os resultados de um estudo iniciado em 2010
sobre a contaminação de alimentos por agrotóxicos - e suas conclusões deixaram
quase em pânico os consumidores que se preocupam em pôr à mesa apenas aquelas
frutas e hortaliças que colaborem com sua saúde.
No banco geral da Anvisa, 28% dos produtos
avaliados foram considerados insatisfatórios; no topo do ranking vinha o
pimentão (com assustadores 91,85 de amostras contaminadas), seguido por
morango, pepino, alface e cenoura.
Estariam os brasileiros, então, intoxicando-se
perigosamente cada vez que levam o garfo à boca e arriscando uma doença grave
no futuro? Definitivamente, não: Quando se esmiúça o relatório, vê-se que muito
do receio que ele provocou é exagerado e infundado. Para explicar porque é
assim, VEJA conversou com 8 toxicologistas e engenheiros agrônomos que atuam em
centros de referências no país.
Antes de mais nada: Porque os
agricultores se valem de produtos que, em seu próprio nome, já trazem o sufixo
tóxico?
A palavra entre "Agrotóxico" é imprecisa
e algo carregado ao julgamento de um valor - resquício do tempo, há muito tempo
deixado para trás, em que estas substâncias eram colocadas no mercado sem
pesquisa suficiente sobre suas propriedades e seus efeitos, e usadas de forma
indiscriminada. O nome certo é "defensivo agrícola", uma vez que
esses produtos servem não para intoxicar a lavoura ou o produtor, mas sim para
defender a plantação de pragas, insetos e parasitas e evitar que ela se perca.
Como foi feito o estudo da Anvisa?
O programa de análise de resíduo de agrotóxico em
alimento avaliou 2.488 amostras de 18 tipos de alimentos - abacaxi, alface,
arroz, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, feijão, laranja, maça, mamão,
morango, pepino, pimentão, repolho, tomate. A escolha das variedades obedeceu à
combinação de três parâmetros: os dados de consumo do IBGE (que levanta os
itens mais comuns na mesa dos brasileiros), a disponibilidade nos supermercados
e as culturas em que o uso de defensivos é costumeiramente intensivo, por serem
mais numeráveis a pragas ou pestes. Os vegetais foram coletados e analisados em
2010.
Como se definiu o que é um alimento
contaminado?
A classificação seguiu dois critérios: resíduo, no
alimento, de defensivo acima do limite permitido e detecção do uso de defensivo
não autorizado para aquela determinada cultura. Das 2488 amostras, 694 foram
consideradas irregulares.
Quantos alimentos apresentaram resíduos
de defensivos em excesso?
Apenas 3,6% dos produtos avaliados revelaram teor
de agrotóxico acima do limite máximo de resíduo (LMR), índice que determina o
consumo sem riscos à saúde. Ou seja, das 2488 amostras, 89 foram reprovadas.
Isso pode acontecer por dois motivos: Porque o agricultor aplicou na lavoura
uma dose acima da indicada ou porque desrespeitou o chamado período de
carência. - O intervalo mínimo entre o uso do pesticida e a colheita, tempo em
que o defensivo se degrada e perde sua toxicidade para os seres humanos.
Quão acima do
limite de resíduos estavam esses alimentos?
Em geral, muito pouco. Segundo o toxicologista
Ângelo Trapé, professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), esse é
o quesito em que este receio é quase sempre injustificado, já que as margens de
segurança são altíssimas. Para definir o nível seguro de resíduos de defensivos
agrícolas que o ser humano pode ingerir diariamente, os cientistas primeiro
realizam estudos em animais. O valor que não apresenta riscos para eles é então
dividido por 100 - e assim se chega ao limite máximo aceitável para homem. Ou
seja, o nível de resíduo detectado das amostras coletadas teria de estar 1000%
acima do permitido para que se começasse a pensar em risco real. E nenhum caso
desta monta foi verificado.
Em 24,3% das amostras, as
análises detectaram presença de defensivos não autorizados. Eles eram, então,
ilegais?
Não, eles eram comercializados legalmente no país.
O que acontece é que cada produto deve informar, no rótulo o tipo de alimento
ao qual destina. "para registrar um produto, o fabricante gasta milhões de
dólares. E, mesmo quando a marca já está no mercado, incluir uma nova cultura
no rótulo, custa entre 35 000 e 40 000 dólares", explica Luís Rangel, coordenador-geral
de agrotóxicos do Ministério da Agricultura. Resultado: Como o processo é
oneroso, as empresas preferem investir em defensivos que serão vendidos aos
grandes produtores, como os dos setores de algodão, soja e milho, em detrimento
daqueles destinados às culturas pequenas, como as hortaliças. "Assim,
quando não há defensivos registrados para eliminar pragas que atacam uma
cultura pequena, o produtor se vê obrigado a recorrer ao defensivo não
autorizado, mas que traz o princípio ativo do qual eles necessitam",
explica Celso Omoto, professor da Faculdade de Engenharia Agronômica da
Univesidade de São Paulo em Piracicaba.
O uso de defensivo não
autorizado é prejudicial à saúde?
Não necessariamente. As pesquisas mostram que um
defensivo não oferece mais ou menos riscos de saúde se aplicado neste ou
naquele alimento. Ou seja, o produto x, indicado para tomate, não ficará mais
tóxico, sendo usado no pimentão. "O problema está na soma: resíduos de um
mesmo agrotóxico em vários dos alimentos que constam na dieta de uma pessoa
podem vir a extrapolar seu limite máximo", diz Luiz Claudio Meirelles,
gerente geral de toxicologia da Anvisa. Mas a situação não é alarmante.
"Como a margem de segurança para o cálculo do LMR é alta, é muito provável
que o consumo desses alimentos não ofereça nenhuma implicação à saúde" diz
o médico patologista João Lauro Camargo, da Faculdade de Medicina da
Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu.
Os alimentos
que lideram o ranking da Anvisa - pimentão, morango e pepino - representam
riscos à saúde?
De forma alguma. Isso vale para os dezoito
alimentos avaliados. "Como os resíduos apresentados estão dentro de níveis
seguros - quando houve excesso, ele era irrisório -, não há motivo para
preocupação em termos de saúde pública" explica Ângelo Trapé da Unicamp.
É possível
remover resíduos de defensivos nos vegetais?
Não, pois o defensivo penetra na polpa do alimento
ou circula pela seiva da planta. Nas últimas semanas, muitas
"receitas" para remover defensivos circulam por ai - inclusive em
telejornais de grande alcance - como lavar alimentos com água e sabão ou
mergulhar em uma solução de hipoclorito de sódio, que nada mais é do que água
sanitária diluída. Pura balela. "A lavagem com qualquer uma destas
substâncias removem micróbios e coliformes fecais, mas não resíduos
químicos", explica o engenheiro agrônomo José Otávio Menten, professor da
Universidade de São Paulo, em Piracicaba. A fruta e a verdura ficam limpinhas,
o que é ótimo. Mas o que houver de resíduo químico nelas continuará ali.
Descascar o
alimento, então não adianta?
Descascar o alimento ou retirar as folhas externas
do maço de alface, por exemplo, elimina apenas os resíduos presentes nestas
partes do vegetal. O que está nas outras partes permanece. Além disso, as
cascas de muitos alimentos são altamente nutritivas, e descartá-las pode ser um
desperdício.
Algumas
hortaliças, frutas e legumes tendem a absorver mais defensivos?
Não. O que determina se algum resíduo permanecerá
no alimento é o manejo do produto na lavoura: a quantidade empregada e o
período de carência indicado para aquela substância em particular. Se tudo for
feito conforme a bula, entre o dia da aplicação do defensivo e o da colheita, a
dose correta sofrerá degradação natural com a ação dos raios solares, da chuva
e dos microorganismos.
Ingerir
resíduos de defensivos provoca doenças ou malefícios?
Não existe comprovação científica de que o consumo
a longo prazo de resíduo e pesticida nos alimentos provoque problemas graves em
seres humanos. "A associação entre o uso de defensivos e a ocorrência de
câncer, malformação fetal ou distúrbios neurológicos só foi demonstrada em
animais expostos as concentrações altíssimas desses produtos", diz o
toxicologista Flávio Zambrone, presidente do instituto brasileiro de
toxicologia. Também não há caso de intoxicação provocada pela ingestão de um
alimento contaminado.
Os defensivos
oferecem risco à saúde dos agricultores?
Apenas quando eles não respeitam as regras de uso.
"Os principais efeitos adversos são problemas gastrointestinais e
demartologicos provocados por exposição a doses elevadas", diz Ângelo
Trapé. Os equipamentos de segurança e as preocupações recomendadas pelos
fabricantes reduzem drasticamente os riscos de contaminação.
"Como o Brasil é um dos países mais rigorosos
no processo de registro, os produtos dispoíveis no mercado são seguros.",
diz a Engenheira Agrônoma Rumy Goto da Unesp.
É possível
reduzir o uso de defensivos no campo, sem prejudicar a produtividade?
Sim, com programas educacionais que ensinem o
agricultor a escolher o produto certo, aplicar a dose correta e respeitar o
período de carência para a colheita segura. O produtor pode, por exemplo, optar
por agrotóxicos seletivos, que agem na praga sem extirpar seus inimigos
naturais. Assim o inseticida que mata o pulgão (praga) não elimina a joaninha
(que se alimenta de pulgões e, assim, promove um controle natural da praga), o
que reduz a necessidade de mais defensivos. Outra solução envolve manejos
agrícolas como a rotação de cultura para quebrar o ciclo de vida da praga.
"O produtor deve entender que existem diversas ferramentas para controlar
pragas. Sem esse conhecimento, ele acaba optando pelo produto mais barato ou
não autorizado para aquela cultura" diz o engenheiro agrônomo Celso Omoto
da USP.
Existe alguma
maneira de o consumidor se certificar da proveniência das frutas, dos legumes e
das verduras que vai pôr à mesa?
Por enquanto não. Mas o Ministério da Agricultura
pretende criar um cadastro de produtores multados por uso indiscriminado de defensivos
agrícolas e disponibilizá-los para consulta pública em seu site. Essa medida
poderá incentivar os bons produtores a identificar seus produtos com um selo.
Como já é possível encontrar nas gôndolas do supermercado.
Obrigado mais uma vez pela visita!
*fonte: ANDEF